Anteontem, minha filha me disse que o que demos a ela não tem preço. Que os patrimônios não se resumem à matéria. Choramos todos.
Tive que distrair o pai para que ele não se emocionasse demais pois começou a cair em prantos quando ela lembrou o dia em que ele foi levar o atestado de óbito de minha mãe pra ela justificar a falta às aulas. Contou que ele chegou com bandejas de doces que ela dividiu com as colegas. Disse que nenhuma filha de coronel foi tão bem cuidada feito ela... e que isso não tem preço. Assim como os livros que leu, filmes que assistiu, tantas coisas que aprendeu conosco...
E quando somos mães de filha única, o sofrimento é incomparável, imensurável. Principalmente quando estamos sozinhas. No meu caso, não estou exatamente sozinha. Pai dela teve um AVC e ele se tornou um bebezão. Uma criança gigante, mimada, que exige cuidados, pede atenção da filha. Mas não me queixo da presença dele dessa forma. Com todas essas limitações, dá a segurança de ser um pai.
Neste momento, me lembro de quando minha filha tinha uns 3 anos. O pai a mimava mas nem sempre estava presente pra cuidados básicos. A história se repete: cabe a mim o trabalho duro, diário, de 24 horas, 7 dias da semana...
Eu, que tanto pedi a Deus que não deixasse meus pais presos a uma cama, hoje eu digo que teria sido tão bom cuidar deles, desde que pudesse ouvi-los, sentir seu cheiro. Falar um pouco de toda minha gratidão em ter me tornado o que sou. Tenho tanta saudade...
E eu faço das tripas coração, movo montanhas, carrego pedras, faço o possível e o impossível para que minha filha possa ter o pai ao seu lado por mais algum tempo... E padeço novamente quando recebo críticas nas pequenas coisas...
Mas isso tudo não é nada à dor de imaginá-la seguir por rumos errados, enganada por talvez uma paixão. Se for para ele fazê-la feliz, terá valido o esforço. Mas como saber a verdade? Rótulos nem sempre vêm estampados na testa. Mas filho de peixe periga ser peixinho... Entretanto, existe uma remota possiblidade de evoluir, sofrer metamorfoses. Talvez! Também posso ter sido levada pela paranoia...